quinta-feira, 3 de julho de 2014

2555



Passaram-se 2555 dias. Muita água passou por baixo da 25 de Abril desde esse dia, há 2555 dias. Não me imaginava a escrever aqui, à beira de uma janela alta com acesso à varanda nesta cidade, sentada na mesa da sala que hoje é minha. São muitos dígitos, são os dias de uma vida que passaram. Volvidos 84 meses e muita gente por entre vidas, viraram 84 meses do avesso e eu sobrevivi. Lembro-me do dia em que não olhei para trás e deixei o alcatrão correr por baixo das rodas que aqui me traziam - parva, miúda, adolescente e exagerada, um drama tal. Há 7 anos ouvi um sábio dizer "não exageres, filha". Revoltei-me ao responder-lhe que não ia saber viver ali. Não sabia na altura, o mar que a minha aldeia de futuro me traria, nem os costumes citadinos semeados à beira capital. Não me ria como hoje, que gargalho ao recordar a sensação. Corridos 7 anos a dor acabou por cessar. Parva, miúda, adolescente, exagerada. Há tanto tempo não sabia que aqui estaria, em frente a este computador enquanto ouço alguém cantar no sofá, no meu sofá. Não me previa a vida que mais tarde construí. O meu sofá. Epifania. O meu sofá.
2555 dias, 624 semanas, 84 meses, 7 anos. O meu sofá. O tempo cura tudo, 2555 dias.

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