domingo, 10 de janeiro de 2016

Há quase um ano que não aqui escrevia...

Tenho um word onde escrevo tudo o que hoje não publico. Nesse mesmo word escrevi o que no dia 19 de Setembro de 2015 abalou o meu mundo de tal forma que ainda hoje não sei se estou de pé.

20/08//2015 - Acamada, doente terminal de cancro no pâncreas:

Gostava de te dar um abraço, sabes? Gostava de te dar um abraço e sentir a tua força de volta, o teu conforto. Dou-te um abraço, mas não te sinto a ti. O cancro levou-te de mim, mas pior, a doença levou-te de ti. Estás aqui, eu abraço-te, sinto-te o calor, a voz baixinha da qual tenho saudades; mas não te sinto a ti. O cancro levou-te de ti, de mim, de nós. 
Gostava que a vida e a morte me permitissem ter-te para sempre, para viver um amor tão diferente de todos os outros, tão nosso. Um amor tranquilo. Tão tranquilo. Nunca houve discussão, parte certa ou errada. Tu és a avó, eu a neta. Tu dizes, eu acredito. Nunca houve lugar a desentendimento, tu és sapiência. Eu pedia, tu aconselhavas, olhavas, nunca julgavas.

Só te queria dar um abraço e sentir o teu abraço de volta, sentir o teu sobressalto de felicidade. Um abraço teu, avó. Sei que choro hoje ao debitar tanta palavra, porque sei que te tenho mas tu não te tens. Gostava que a vida e a morte percebessem que preciso de ti todos os dias da minha vida. E que vou precisar. Hoje, sempre, para sempre. Preciso do teu abraço, de ser egoísta e pedir o teu colo. Preciso de ti, do teu amor; do nosso amor tranquilo e transparente. Tu és a avó, e eu sou a neta. Preciso de ti, avó. 


07/12/2015 - A primeira vez que lhe escrevi depois de partir:

Morreste. Foda-se. Morreste. Tenho saudades tuas e não há dinheiro de viagem que a mate.
- Todos os dias penso na avó. Tu também?
“Toma 10€, vai dançar”
“Com o tempo, o tempo acalma tudo”
“O teu irmão?”
“Obrigada, neta”
Fizeste de mim a neta mais feliz do mundo. E o mundo podes ser única e exclusivamente o meu mundo. Ensinaste-me a ter um mundo só meu. Com calma e paciência. É nesse mundo que te tenho a descansar avó. Naquele que é só meu, que só eu conheço. Que tu me ensinaste a ter. É aí que estás.
É Natal. Estamos em Dezembro. É Natal, e é o primeiro Natal que vivo sem ti. Hoje são quase 3 meses, todos os meses  serão um  mês, e cada ano será um ano. Não sei eu como será este Natal. Eles lembram-se do dinheiro que lhes davas para o bilhete de comboio, eu lembro-me do bilhete ser picado. Lembro-me dos passeios, da ria que perguntei sempre o que é.
Hoje lembro-me de ti com um sorriso. Ainda não verti uma lágrima. Lembro-me de ti saudável, linda, vaidosa, arrumada, cautelosa, avó.
Hoje é dia 7 de Dezembro. Por esta hora já terias ligado ao João, que faz hoje 33 anos. A conta que o teu Deus fez.

Amo-te.

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