domingo, 17 de março de 2013

Até já, João.

Despedi-me hoje de ti; disse-te "Até já, João"; arranquei um pouco de mim e vi-te levar esse pedaço de Mafalda para um lugar mais longe. E foi assim! Assim, sem aviso prévio; assim, com força e mágoa. Foi assim que te abracei e contive as lágrimas na esperança de evitar o drama e o caos psicológico. Foi assim que me separei de ti e não contive lágrimas, caos ou drama; chorei por ti - pelo pedaço que vai de mim junto de ti, junto do amor de irmãos que há 21 anos nos une.

Despedi-me hoje de ti; introspeccionei o porquê desta dor ser tão presente, exaustiva e forte. Então parei e percebi que esta dor é tão forte porque há 21 anos adquiri vários estatutos, entre eles está presente o estatuto de 'irmã mais nova do João - 9 anos e 9 meses mais nova'. Por isso percebi que esta dor é forte porque me separo de ti outra vez; porque não te tenho aqui outra vez.

Despedi-me hoje de ti; espezinhada, dorida e magoada pela vida. Não sei lidar comigo mesma a esta altura, não sei como controlar um sentimento destes - que provém de amor, mas que me mata por dentro. Porque estou bem, mas depois "Cheira a João. Pensa-se João. Sente-se João" e choro - choro muito e de forma compulsiva. Hoje choro a tua ida com a maior intensidade com que alguma vez chorarei um até já.

Despedi-me hoje de ti; revi e revivi quem somos e o que nos une. As sessões de pancada e cócegas desde sempre;  o partir a cabeça aos meus 3; as idas à minha escola aos meus 13; de Portishead e Björk aos meus 15; as idas a Évora dos teus 17; a inscrição na minha faculdade dos meus 20; as confissões dos teus 18; da bebedeira dos meus 17; do vivermos juntos aos meus 18 - a nossa casa no Príncipe Real; de me acompanhares à casa nova onde hoje moro; do 720 da minha casa até à tua; dos jantares de amigos; dos choros de irmãos; dos momentos em que cheia de orgulho te apresentei como meu irmão; de nos vestirmos de preto nas manifestações, de luto pelo país; do hábito que criei.

Despedi-me hoje de ti; e percebi que esta dor lacerante e alucinante tem vários nomes. Ela chama-se saudade que já tenho e ainda agora foste embora. Ela chama-se esperança porque foste onde vais ser melhor, ficar melhor e viver melhor; Ela chama-se João, tem 30 anos e embarcou hoje rumo a Londres. Porque juntos, vamos mudar o mundo.

E por isso, até já João.

Beijinhos,
She versus Say

1 comentário:

  1. Começa a ser o banal: entes queridos tão longe... Estamos a voltar à geração dos nossos avós.

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