segunda-feira, 29 de abril de 2013

Avó

Então, naquele pedaço de tarde solarenga percebi que os 83 anos já lhe pesavam. As mãos enrugadas e finas estavam mais fracas, os cabelos ainda mais brancos que o que lhe conhecia. Tremia mais um pouco, e falava mais porque se sentia cada vez mais sozinha. Então, naquele bocado de tempo primaveril ela descascou-me uma maçã como só ela descasca - com muito pouco desperdício - e entregou-ma em quartos perfeitos de sabor e sabedoria enquanto me cantava as mesmas histórias de velhos tempos que nunca me cansarei de ouvir. Percebi, naquele instante feliz e com raios de sol a escapar por entre os cortinados, que tinha pouco tempo, e mesmo que fosse mais tempo, seria sempre pouco tempo para a aproveitar. Por isso naquela fracção de segundos aninhados em ternura prometi-me ter todo o tempo para a ouvir; para ela me descascar maçãs; para me ensinar coisas que só ela sabe; para lhe dizer que a adoro; e para por fim, lhe chamar tão Avó como sempre me foi. 


Beijinhos,
She versus Say

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