terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mais um até já

São agora 14:25. Estou sentada no exterior do aeroporto de Lisboa. Ainda há minutos o deixei na porta de embarque, ainda há minutos lhe disse até já.
Como é que se diz até já à pessoa de quem gostamos? Como fazemos isto sem um aperto no coração que me diz 'Ficou tanto por fazer, tanto mais ainda por dizer'. Como lhe damos um último beijo e desejamos sorte, sem que o mundo desabe? Como viramos costas com um sorriso e não voltamos a olhar para trás? Como impedimos que a fraqueza nos atinja e mantemos uma postura bonita, pela última vez que o vemos pelos próximos tempos? Como não sentimos arrepios ao andar pelos corredores do sítio onde deixo tantas lágrimas quando lá vou?

(senti o estômago colado às vértebras)

Será isto tanto pelo significado daquela pessoa para mim, como significado de ver mais alguém sair do país. Foi para uma vida melhor - mas, cá dentro, sinto um medo enorme por ele; um receio que não sei como exteriorizar; uma fobia aterrorizante por ele. Perdi-me em lágrimas - tive que dizer mais um adeus.
 

Quero-lhe tanto sucesso e bem.

São 15:25. Chego a casa. O telemóvel tocou pela viagem - recebo um obrigada pela despedida, e uma mensagem entusiasta de quem está num Boing 777, enorme por sinal. Imagino o sorriso em conjunto com os olhos de quem sente a vida aproximar-se da mudança.
Abro a porta do quarto, deparo-me com a cama onde passámos a última noite, onde deixei que me visse a alma pela última vez. Aquela cama relembra-me os corpos juntos, os abraços, o calor de um corpo ao eu lado, os beijinhos durante o sono, os segredares de palavras tontas e bonitas, as sessões de séries vistas na TV, os meses que passei com a ausência-presença daquela pessoa. Lembra-me o último café em que deixei tudo esclarecido, onde ouvi o que melhor me soube, onde correram horas de palavras até que a coragem chegasse para endireitar pormenores. Aquela cama lembra-me as melhores gargalhadas, os melhores cigarros partilhados, os melhores olhares em silêncio.
Pendurado na cadeira está um cachecol preto e branco, quente por sinal. Aquele cachecol tem um perfume que não é meu.



Hoje, quando o deixei na porta de embarque juntei ao lado dessa imagem, a imagem da primeira vez que vi aquele homem a chegar no autocarro ao Cais do Sodré. Vai deixar saudades.

M: Não te esqueces de mim?
D: Tens o meu cachecol... (ar malandro na imagem enquanto sorri e me puxa para ele)


Beijinhos,
She versus Say

3 comentários:

  1. Não é fácil, o coração vai com o outro, ficarás uns dias a sentir-te como se não tivesses alma até te recuperares aos poucos. E eventualmente sentir-te-ás injustiçada pela vida, pelas circunstancias não serem as mais doces.

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  2. O que "arde,Cura"_ Vais ver que devagarinho, sem pressas, ou sei lá, com a pressa com que corres a vida, o arder vai tornar-se menos agreste e, quando deres por ti, será uma doce memória do Tempo em que deste o teu "Grito de Ipiranga". O que arde Cura e, com a veracidade com que gostas de viver, não te vais dar muito espaço para lamentos....quem te conhece, sabe. És linda, inteligente, lutadora, teimosa, criativa, Brilhante!!!!!!!!!!

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